5.10.11

Minha Adolescência

Eu era assim. 1996-1997.

Pra ler ouvindo o disco Tudo ao mesmo tempo agora do Titãs. Pode ser também o Titanomaquia.

Minha adolescência se passou entre os anos de 1990 e 1998, aproximadamente. Dizem que a adolescência é um período de descobertas, de grande pegação, etc. Tudo mentira no meu caso. Eu não pegava ninguém. Meu primeiro beijo foi aos 14, mas entre um e outro era uma verdadeira epopéia. A primeira vez de outras coisas então, afff. A adolescência não viu isso acontecer. Hoje, fazendo auto análise, consigo entender alguns motivos.

Acho que só usei vestido, saia, coisas de mulherzinha até os 7 ou 8 anos. Aí fiquei 20 anos usando calça jeans, tênis e camisetas pretas. A partir dos 12 anos era só camiseta de banda. Por um tempo a diferença para os meninos era o batom. Depois eu cortei o cabelo. É, eu tive cabelo curto nessa época também, eles tinham cabelo comprido. Ah, mas eu era cheirosinha, tomava banho todo dia. Mas nenhum menino sabia disso, porque eu sempre estava entre eles. Os que me conheciam, não queriam saber, os que não me conheciam, não me conheceriam porque achavam que eu era um deles, um menino. Pois é. A pior coisa da vida de uma menina é ser tratada como um cara pelos amigos.

Outra coisa engraçada era meu gosto musical. Hoje sou bem eclética, gosto de muita coisa. Mas os meninos tinham um pé atrás com meninas que iam pro bate cabeça no show do Sepultura. Não sei o motivo. Havia um grande problema numa menina que curtia sair pulando e se drogando num show do Raimundos, lááááá naquela época áurea do Raimundos. Alguém que dizia que o Tudo ao Mesmo Tempo Agora do Titãs era o melhor deles, com músicas como Isso Pra Mim é Perfume (quem conhece?), Saia de Mim e Clitóris. Pô, qual o problema da música de escárnio afinal?

Lia Marques de Sade, Carlos Drummond de Andrade e Carmina Burana. Vivia na biblioteca municipal. Não frequentava nenhum lugar pra conhecer meninos. Noites de final de semana no bar mais rock n’ roll da cidade, no centro, num tempo em que carro era luxo de pouquíssimos conhecidos. Mesmo assim de vez em quando rolava uma carona kamikaze.

Era menor, ninguém ligava da gente ficar na rua, beber, encher a cara. Claro, EU não corria perigo nenhum, segundo alguns amigos, era mais macho do que todos eles. Sobrevivi. Ainda bem que aprendi a usar saias.

23.8.11

Coração Dodói?

Hoje descobri (ou assumi? ou aceitei?) que uma parte do meu coração tá dodói. Não é aquela parte que cuida de levar o sangue pro resto do corpo, essa parte faz o seu trabalho direitinho. Nem é aquela parte onde algumas pessoas tem uma casinha com vista pro mar e moram lá. Não. É uma parte que me dizia há muitos e muitos anos o que eu faria da vida, mesmo eu fazendo de conta que não a escutava.

Essa parte do meu coração é a que fazia com que ainda aos 10 anos de idade, eu já juntasse colegas em casa pra repassar algumas lições de matemática (veja só!) e de português numa lousinha dada pelos meus pais. Fazia também com que ao longo de todo o ginásio (hoje Fundamental II) eu juntasse sempre alguns colegas na sala em busca de explicações das matérias. No colégio (atual Ensino Médio) fez com que, mesmo eu odiando estudar, juntasse amigas em algumas casas pra explicar como montar o bendito balancete, ou discutir legislação trabalhista. Fez com que na Telefônica eu ficasse sempre encarregada de ensinar o trabalho aos novos no setor em que eu trabalhava. Fez com que eu escolhesse uma faculdade de Humanas, Ciências Sociais e depois, História. Na segunda fez com que eu fosse praticamente uma monitora em uma ou outra disciplina. Foi na época em que me rendi e fui ganhar pra ensinar. Já se passaram 9 anos da primeira vez em que entrei numa sala de aula. Sim, eu me encontrei lecionando, eu nasci pra isso.

O problema, o que vem adoencendo essa parte do meu coração é tão complexo que nem ao menos vejo uma luz no fim do túnel. Adolescentes cada vez mais desinteressados por tudo, apáticos diante de uma sociedade que valoriza cada vez menos o conhecimento, o sentimento, a educação em geral. Toda uma sociedade em que dia após dia crianças entram nas drogas sem pensar no amanhã. Uma geração que embora ainda sonhem (eu acho que sonham), não fazem absolutamente nada pra seguir seus sonhos. Outro problema é a instituição do Estado, na qual encontro-me empregada. Embora na TV apareça o contrário, a valorização do professor, do conhecimento passado por ele, é zero. A valorização do ser humano que lida com centenas de outras vidas todos os dias não existe. O que existe é uma pressão de todos os lados para se diminuir a evasão, a reprovação e as notas baixas, custe o que custar. A vitrine deve sempre ser bonita, não importa como estamos vivendo lá dentro. Não importa se temos condições precárias, se alunos vão à escola apenas por um benefício em dinheiro, se alunos passam drogas dentro da sua sala, se não existe condição física na escola (falta de água, luz). Importa que o professor atribua boas notas aos alunos.

Como um bichinho, tudo isso corroeu aquela parte do meu coração e começou uma verdadeira devastação em outros setores da minha vida. Sono, bem-estar, humor, auto-estima, auto-confiança, ânimo, tudo isso foi pro ralo. Pela primeira vez na vida preciso me afastar de uma das coisas que mais gosto de fazer, lecionar, pra ver se consigo voltar a fazê-lo como sempre fiz, com amor, como um sacerdócio. Tudo isso é realmente muito novo pra mim, e pretendo voltar a escrever por aqui (promessa velha) e contar como será esse meu retiro. Desejem sorte.

29.5.11

Rabugentices dominicais

Manhã de domingo. Cara inchada de sono no volante. Farol fechado. Estaciona ao lado um carro Nissan, do tipo que eu nem sonho ter um dia. Abaixa o vidro filmado e um moçoilo fala alguma coisa. Lista ordenada de possibilidades:

1. Meu carro ta pegando fogo ou ta com o pneu furado. Ou as duas coisas. Sinto o cheiro, penso um pouco, acho que não.

2. Eu fechei o cara lá atrás. Se eu abrir o vidro ele vai me xingar de vagabunda e ta muito cedo pra isso. Cara de paisagem e não abro o vidro.

3. O imbecil ta perdido e acha que eu conheço alguma coisa, vai me perguntar como chega sei lá onde. Eu não sei, mas vamos ver. Vai que o carro ta pegando fogo mesmo.

Com um bom humor invejável numa manhã dominical de céu azul e sol bonito eu abro o vidro e escuto a infâmia:

- Ooooiii, sabia que você é linda?

Por um momento quase achei que era melhor que o meu carro estivesse pagando fogo. Foi pegadinha isso? Ou tem gente que tem fetiche por mulher com a cara inchada e com o cabelo (ralo) despenteado? Quem o mocinho tava tentando enganar?

Ah, já sei. Ele tava é perdido mesmo e queria alguma informação. Por isso tentou me agradar. Dei uma fungada, que é a minha expressão quando não tenho palavras pra mostrar minha irritação, fechei o vidro e fui embora. O domingo continuava lindo e meu carro não pegou fogo.

1.1.11

Promessas de Ano Novo

Prometo ser mais sociável. Ou pelo menos espero tentar ser. Quero, pelo menos.


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30.12.10

Balanço da década

Hoje li num blog por aí uma lista das 10 melhores e as 10 piores coisas da década e fiquei com inveja. Só que realmente não sei se vou conseguir numerar minha lista desse jeito, mas vamos ver...

Melhores...

- Vi o show do Paul McCartney, que eu achava que nunca veria na vida;
- Passei pela cirurgia de redução de estômago, estou hoje com 68kg, peso que não lembro quando eu tive antes disso;
- Conheci alguém que me traduz, que me agrada, que gosta do que eu gosto e que me acompanha muito além de passeios, como achei que não fosse encontrar;
- Comprei meu carro;
- Aprendi a dirigir e ainda não matei ninguém;
- Com o meu carro descobri que só não vou onde eu não tiver dinheiro pra pagar a gasolina;
- Vi o show dos Mutantes, mesmo sem a Rita, foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida;
- Me efetivei no Estado como professora depois de 3 anos de sala de aula;
- Me formei em duas faculdades: em 2001 foi Ciências Sociais, e 2005, História.
- Me mudei de casa, minha família saiu do aluguel.

Piores...

- Cheguei a pesar 107kg, e ainda achava que estava tudo bem;
- Comprei o carro, mas não terminei de pagar ainda;
- Me efetivei no Estado como professora. Sim, isso aparece como melhor e pior, vivo hoje um misto de amor e ódio com a minha profissão;
-De 20 aninhos pulei pra 30, como da noite pro dia;
- Perdi um amigo;
- Perdi meu pai, companheiro inseparável de Jornal Nacional, sorvete e virado à paulista;

Adoro listas, mas essa não foi fácil fazer. Tanto que nem consegui um número fixo de coisas. No final acho que o saldo acaba sendo positivo, mesmo nas piores coisas. De tudo, o que sobrou foi bom, foram boas lembranças.

20.12.10

Psicanalista?

Querido psicanalista virtual, já que não tenho dinheiro pra pagar um de verdade...

Todos dizem que estou ótima, linda e esses tipos de adjetivos. Mas por que é que o espelho não me diz a mesma coisa? Chego ao ponte de começar a me encher com esses comentários, já que eu não tô me sentindo nem tão ótima, nem tão linda assim, com esse monte de pele sobrando. Mas não vou me prolongar nisso, já que só eu mesma é que penso desse jeito.

Outro problema sério tem sido o prazer nas coisas. Antes era fácil, tava brava, nervosa, triste, ia num supermercado, comprava uma barra de chocolate e comia, devagar e prazerosamente. Hoje isso já não é possível. Um simples sonho de valsa é suficiente pra me deixar de cama com tudo girando. Comer deixou de ser um prazer desde a cirurgia. Mas até agora não entrei outra fonte de prazer que eu possa desenvolver sozinha, dependendo apenas de mim. No começo achei que a academia fosse ajudar, mas na verdade quando chego lá já tenho vontade de vir embora. Dormir tem sido um pesadelo, a leitura também não tem sido agradável, o trabalho prefiro nem comentar. Não tenho tido paciência nem pra selecionar músicas pra ouvir no dia a dia, coisa que pra mim sempre foi essencial, como a água, como o ar. Fotografar, editar fotos, ver e fotografar lugares diferentes, não. Nada disso tem me deixado feliz.

Comprar roupas às vezes me deixa muito feliz! Mas a felicidade passa quando vem a fatura pra pagar.

Ano que vem pretendo começar a yoga, quem sabe? Se não der apelo pro tricô, crochê, bordado, porém são coisas que já me irritavam profundamente desde cedo...

10.12.10

Deve ser isso

Então é assim. Passamos anos junto com eles, dia após dia. Na sala de aula, nos corredores da escola, na internet. Ensinamos o que presta e o que não presta também. Dividimos de tudo: momentos bons, ruins, explosões de ódio, de decepção, de paixão, de surpresa, de comoção, de superação. Dividimos fofocas, impressões, opiniões nem sempre semelhantes. Debates acalorados. Lembro de um dia em que achei que a aula fosse acabar em tapas por causa de uma discussão sobre escravidão.

Durante os anos eles nos provocam os mais diversos sentimentos compreendidos entre o amor e o ódio. Às vezes um só tem o poder de causar, sozinho, tudo isso. E dentro de 50 minutos. Fazem confissões, nos abrem o mundo deles, seja para o bem, seja para o mal. Os vejo crescer, acompanho as mudanças mais significativas na vida deles, e de perto. Desde a mudança na estatura, as formas do corpo, o tom da voz, o primeiro beijo, o primeiro amor, até os primeiros passos pra uma profissão. Alguns se encaminham para o que gostam logo no começo, mesmo inconscientemente.

Mas aí um dia eles crescem e vão embora. Começam a se virar sozinhos. Te dão um abraço, agradecem por tudo, e vão seguir a vida em outros lugares. Hoje uma turma querida apresentou uma peça de teatro com direito a festinha no final e eu fui uma das convidadas de honra. Eles cresceram, se viraram sozinhos, já não precisam da gente organizando tudo. A peça foi praticamente toda feita por eles, a festa também. Eles cresceram e estão indo embora. Alguns talvez eu nunca mais veja, irão fazer cursos técnicos fora da escola. Me mataram de orgulho.

Deve ser isso amor materno. Gosto tanto deles que não consigo explicar o que realmente sinto. Como disse, alguns me provocaram o ódio e o amor em pouquíssimo tempo.

Deve ser isso. Deve ser amor.

22.11.10

O show da minha vida

Eu tenho 30 anos, sou de 1980. Quando nasci Beatles já não existia mais e Lennon seria assassinado no mesmo ano, 9 meses depois do meu nascimento. 21 anos depois foi a vez de George Harrison partir. Em 1993, quando Paul McCartney esteve no Brasil eu tinha 13 anos e ainda ouvia Beatles brincando de bonecas, acreditem. Passei todos esses anos acreditando que esse era um show que eu teria que me conformar de morrer sem ver, era um fato consumado, sem dúvida.

Mas um dia acordei com a notícia de que estavam confirmadas as datas da apresentação da nova turnê do Paul, e logo sairam as datas de venda de ingressos. Foi tudo tão rápido que foi difícil acreditar no momento em que apareceu a mensagem na tela do computador dizendo que a compra havia sido finalizada. Inacreditavel também quando chegou o ingresso e a rapidez com que chegou o tão esperado dia. Tudo o que eu acreditava ser impossível, aconteceu e muito rápido.

A ficha caiu durante as duas horas de fila na frente do Estádio do Morumbi. Milhares de pessoas uniformizadas esperando anos e anos por aquele dia. A emoção aumentou quando entrei no Estádio e, embora não tenha sido tão rápido assim, parece que em um piscar de olhos as luzes se apagaram e o homem entrou no palco. Venus and Mars, Rock Show e a minha primeira explosão em Jet. A emoção apertou mais em Drive My Car, coração batendo descompassado.

My Love, dedicada a todos os casais, me fez sentir mais falta do namorado companheiro de tantos shows. Blackbird é covardia, os olhos lacrimejam assim como em Something, na minha opinião, a mais bela música de amor de todos os tempos. Falta do namorado de novo. Animadíssimas, Dance Tonight eMrs. Vandebilt, trabalho solo que nem curto tanto assim, boa mesmo e Band on the Rum e Let'em In, que eu nem esperava ouvir. Ob-La-Di, Ob-La-Da e Back in the U.S.S.R, momentos de alegria, gritaria, saltitante. I've Got a Feeling e Paperback Writer preparam o terreno pra lindíssima e emocionante A Day in the Life com Give Peace a Chance. Aí as lágrimas que só molhavam os olhos e se continham molharam meu rosto, mesmo com um sorriso imenso estampado. Let it Be por pouco não aumenta as lágrimas secadas após o espetáculo dos balões brancos que cobriam o público em Give Peace a Chance. Live and Let Die, fogos, mais emoção e Hey Jude, lindíssima com o povo cobrindo a voz do Paul, que deixa o palco aos nossos gritos de naaaa, na na na na na naaa, Hey Jude...

Antes de pararmos totalmente de cantar, Paul volta e toca Day Tripper, Lady Madonna e Get Back, cantada aos gritos por todos como se não precisássemos das nossas cordas vocais nunca mais. Mais uma saída e antes que desse tempo de tomar um copo de água ele volta de novo pro derradeiro bis da noite. Ao violão, sozinho no palco, Yesterday. As cordas vocais foram maltratadas outra vez em Helter Skelter e os pés já cansados foram judiados mais um pouco também, impossível não pular. O fim foi anunciado em Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, 'we´re sorry but it´s time to go'. Ao final, a música com a frase mais linda que já ouvi, a maior lição de todas, The End: 'and in the end, the love you take is equal to the love you make'.A lágrimas molharam o rosto que agora eu já notava que estava dolorido e talvez com mais rugas por conta do sorriso que não me abandonou por quase 3 horas. Agora as lágrimas eram quase de tristeza, por tudo aquilo que tinha acabado de ver, inacreditavelmente. Nos olhávamos, eu e minha cunhada, companheira dessa aventura, e falávamos "eu não acredito no que vi". Eu ainda não acredito no que vi.
 
Poucos dias da minha vida eu gostaria de nunca esquecer. Esse com certeza é um deles, certamente um dos mais felizes até aqui.

20.11.10

Skank e as bandas nacionais

Eu devo ter nascido ouvindo rádio, então acho que tenho alguma autoridade pra escrever minhas opiniões sobre música. Hoje fui ao show do Skank no Citibank Hall, em São Paulo, e o que vi me fez pensar muito em tudo o que eu ouvi e ainda ouço.

Todas as bandas de pop-rock nacional que eu passei minha vida até aqui ouvindo praticamente acabaram. Ou então, o fim teria sido o que e melhor poderia ter acontecido. Exemplos claros são o Titãs (Quem é o Titãs hoje? O Branco Mello?) ou o Capital Inicial. Outras bandas chegaram num ponto bacana e pararam, por exemplo, Paralamas do Sucesso. Não me queixo do Paralamas, veja bem, mas pra falar a verdade, nem sei se eles não decaíram depois dos discos que eu mais gosto, do final da década de 90. Outras ainda já nem eram grande coisa, e continuam sendo quase nada, Ultraje a Rigor, Inocentes, Plebe Rude, etc. O fato é que a maioria delas, de uma forma ou outra, não sobreviveram ao ano 2000, perderam algo ou tudo.

Mas a história não é igual pro Skank. Com uma aparição um pouco mais tardia do que as bandas que já citei, eu lembro até hoje do primeiro clip que rolava na MTV, lá pra 1993. Não que eu gostasse. Mas o fato é que os caras eram estranhos, tocavam um som mais estranho ainda e não me agradava. Aí lançaram outro clip. E outro, e outro. A cada disco era inevitável notar que os caras cresciam, não necessariamente que me agradasse. Relutei contra o pop do Skank até o dia em que lançaram o Cosmotron, em 2003. Tinha que admitir, a banda aprendeu a fazer o que eu queria ouvir. E vieram as parcerias com o pessoal do Clube da Esquina, letras maravilhosas, melodias simples e sensíveis. Sim, uma banda de pop-rock, simplesmente, mais pop do que rock, mas é boa e só melhorou ao longo dos anos.

Hoje no show que durou quase duas horas vi minha adolescencia passar na minha frente. Músicas que por puro preconceito eu negava que ouvia, ou que gostava, afinal, eu era do rock. Foda-se. O pop tá aí pra ser ouvido. Músicas que tocaram tanto que não me permitia uma avaliação na época hoje me soam muito bacanas, como Pacato Cidadão, Tão Seu, Saideira, Te Ver, Jack Tequila. Outras, lindas, me emocionam, como Balada do Amor Inabalável, Resposta, Sutilmente, Ainda Gosto Dela. Outras animadíssimas, dignas daquelas festas loucas de final de ano, Três Lados, Vou Deixar, Garota Nacional, É Uma Partida de Futebol.

Sim, Skank cresceu. E hoje eu também cresci e admito, gosto sim do Skank. Se tiver oportunidade de ver de novo, não pensarei duas vezes. Já pra ver outras bandas nacionais, depende muito. Mesmo as que eu sempre, desde o início, gostei.

31.10.10

Um dos homens da minha vida

Hoje faz 8 dias que acordei sem o meu pai. Eu acordei, ele não. Estranho pensar que eu nunca tinha considerado a possibilidade de um dia ficar sem ele, embora desde que eu me conheça por gente sua saúde nunca tenha sido das melhores. Tabagista desde sempre e sedentário, sabíamos que ele tinha problemas de saúde.

Mas ele era meu porto seguro em casa. Era um companheirismo velado, algo não declarado. Mas o fato é que ele nunca tomou partido nos meus inúmeros conflitos com a minha mãe. Essa sim, sempre foi uma relação conturbada por incompatibilidade de interesses, pensamentos, opiniões. Nos piores momentos, o máximo que ele fazia era permanecer neutro. Nunca me criticou por nada que fiz, nunca me repreendeu. Orgulhou-se quando saí do colégio e fui fazer faculdade direto. Lembro até hoje do dia em que meu nome saiu no jornal, na lista dos aprovados no vestibular, e ele me acordou com o jornal nas mãos. O dia em que fui aprovada no concurso pra ser professora também foi uma festa, menor somente do que o dia em que assumi meu cargo e consolidei minha carreira. O sucesso da minha cirurgia também foi noticiado por ele por todo o bairro, exibindo-se pelo fato de agora ter uma filha mais bonita ainda. Cada vizinho que confirmava isso, ele vinha e contava.

Momentos felizes da infância também. Passeios e mais passeios, longos domingos rodando pelas estradas de terra que não davam em lugar nenhum. Domingos fazendo churrasco no clube e fugindo da chuva da tarde. Viagens, passeios, filmes na TV, no video.

Não é porque ele foi embora que digo isso tudo, nossa ligação era clara, óbvia. Embora não compartilhássemos das mesmas opiniões em tudo, nos respeitávamos. Em política nunca concordamos, mas sei que ele se orgulhava das minhas opiniões e foi com ele que aprendi a assistir jornais e criticá-los, desde muito cedo.

Acho mesmo que vamos nos encontrar, não é possível que acabe aqui, assim. Pena que parece que vai demorar agora. O que me conforta, e muito, é tudo isso que acabei de escrever. Entre milhões de abraços de pessoas conhecidas, amigas e desconhecidos, uma frase foi a que mais me tocou e a que eu talvez nunca me esqueça. "No final, só ficam as boas recordações, as lembranças boas". Quem me disse isso foi ele, o namorado, o jornalista, ou o fotógrafo. A pessoa sem a qual eu simplesmente não sei como teria sido passar daquele sábado até hoje, um outro homem da minha vida.

19.10.10

5 meses

Saúde física x saúde mental

Hoje faço 5 meses de cirurgia. Inegável o ganho de saúde física. Operei com 96kg, mas cheguei a pesar 107kg. Hoje, com 76kg, não sinto mais cansaço, dor nos pés, dor no corpo, falta de ar. Estou comendo menos e melhor, pouco me satisfaz e aprendi comer bem. A pressão baixou também, embora nunca tenha sido alta, e até os exames ginecológicos vieram sem nenhuma alteração. Se tem a ver, acredito que não, mas é só mais um exemplo de que nunca estive tão bem de saúde em toda a minha vida. Até a infecção de urina que eu tinha praticamente durante todo o tempo me livrou. Hoje consigo fazer quase duas horas de academia e não chego em casa morrendo, nem tenho que parar por causa da falta de ar.

Mas parece que tudo tem um preço, e esse tá sendo bem alto. Não falo das guloseimas que hoje me fazem mal. Falo da minha cabeça, dos meus pensamentos, das minhas angústias, essas sim estão me fazendo mal de verdade.

Minha auto estima nunca foi tão baixa, nem na época em que pesei 107kg, pelo contrário, até me achava bem interessante. Estranho como antes eu não sentia tanto a necessidade de elogios, e hoje, mesmo os tendo esporadicamente, não me bastam. Nunca basta, nada basta. Poucas coisas ou quase nada me traz satisfação. Tenho a impressão que começo a perder o prazer de fazer várias coisas, e nem comprar roupas mais me atrai. Vontades eu tenho várias. Vontade mesmo de comprar roupas, sapatos, fazer tatuagens, mudar drasticamente o cabelo, sumir do trabalho, vender o carro e gastar todo o dinheiro em inutilidades, viajar, passear. Mas é óbvio que não faço absolutamente nada disso pela falta de grana e coragem.

Mas o que mais dói mesmo é a falta da auto estima, a impressão de que estou tanto quanto ou mais gorda do que antes. A sensação de que nunca vou ser vista como alguém magra, desejável. Junto com as neuras quanto ao corpo é inevitável que sujam outras neuras, como a sensação de que gostaria de ter mais atenção das pessoas, ou de que apenas enche o saco de todos, e que todos podem realmente estar de saco cheio de você. Penso às vezes que talvez o desejo de aceitação tenha ajudado muito na minha decisão pela cirurgia, mas que passando o tempo, meu corpo mudou, não meus defeitos. Talvez eu continue chata, carente, grudenta e na verdade, solitária, sem lá muitos amigos e amigas, sem muitos ombros onde eu possa chorar tudo isso. Solitária, acho que é assim que hoje estou me sentindo.

Balanço final? Não sei.  A razão diz que é positivo. Mas tenho saudade de me sentir bem.



Música linda, do Itamar Assumpção e Alice Ruiz, cantada pela Zélia Duncan e Anelis Assumpção. Hoje ela me faz bem.

13.9.10

No provador

Entrou na loja que sempre entrava. C&A. Dificilmente comprava ali alguma roupa, tudo muito pequeno, rarapemente tinha algo para o seu tamanho. Passou entre os cabides, e foi pegando uma, duas blusinhas, um vestido, duas calças jeans. Tudo num tamanho que nem se lembra quando foi a última vez que comprou, tamanho 44. Seguiu ao provador.

As calças. Uhm, entraram. Fecharam. Olha de um lado, olha do outro, uhm, precisariam ser apertadas na cintura. Deixa-as de lado. As blusinhas. Experimentou uma, tão simples e tão cara... não. A outra, tão cara quanto a primeira, de renda, do tipo que ela nunca usaria, não frequenta lugares pra usar esse tipo de roupa. Pro cabide. O vestido. Serve, largo, porém curto. Ainda não se sente confortável pra usar um vestido mostrando os joelhos. Cabide.

Pega todas as peças e segue para a saída do provador. Com um leve sorriso nos lábios que não demonstram nem a metade da alegria que sentia por dentro devolve todas as roupas para a funcionária da loja e sai feliz da vida. Ao sair do provador o sorriso aumenta, fica menos discreto. Tamanho 44. Sente vontade de pegar o celular e ligar pra alguém só pra contar o que acabou de descobrir, seu mais novo número de manequim, tamanho 44.

Sai da loja, antes de chegar no carro ainda olha pra dentro de uma loja de tamanhos especiais como quem vê uma fotografia antiga, de um antigo relacionamento, sem um pingo de saudade. Muito feliz!

19.8.10

Do inferno ao céu em uma tarde

Hoje, 15h25:

- Quero ver se vou embora dessa escola hoje sem o meu boné! Vou pegar nem que seja a força, quem é você pra ficar com o meu boné?

Essas foram as palavras de um aluno logo após eu ter pego o boné dele. Dentro da minha escola existem algumas regras, embora não pareça, e eu as faço valer dentro da minha sala. O uso do boné, por exemplo, é proibido e todos estão cansados de saber. Por isso mesmo, esse costuma ser o artifício que alguns alunos utilizam quando querem provocar, ou mesmo testar o professor. A ‘criança’ em questão atrapalha as aulas, não faz absolutamente nenhuma tarefa, não usa uniforme, e costuma desacatar professores. Sim, eu também usei o boné dele pra testá-lo. Após dois pedidos para que retirasse o boné, na terceira eu mesma fiz, fui até ele e tirei. Agora só devolvo na presença do responsável. Resolvi, ou pelo menos estou tentando resolver dois problemas: provavelmente ele não usará mais o boné na sala, e eu ainda conseguirei chamar alguém responsável pelo garoto pra mostrar a situação dele na escola. Fato é que tudo tem seu preço, fiquei nervosa a ponto de tremer as mãos diante da ameaça que ele fez de arrombamento do meu armário.

Hoje, 17h20

- Professora, sabia que a senhora é a professora que eu mais gosto? A senhora é sempre carinhosa com os alunos, atenciosa, explica tudo várias vezes pra todo mundo, ta sempre sorrindo. Mesmo quando perde a paciência com alguém, continua tratando todos os outros muito bem. É como se a senhora fosse uma amiga nossa!

Essa foi uma aluna da sala que dei a última aula do dia, nos últimos minutos de aula. Parece que alguma coisa disse pra ela que eu precisava ouvir isso. Mas afinal, o que seria do bom se não existisse o mau, né? Problema é que damos maior atenção ao que nos desagrada e às vezes perdemos a chance de ouvir esse tipo de coisa.

17.8.10

Eu e minhas neuras

Essa sou eu em dois momentos totalmente diferentes da minha vida.

Do lado esquerdo, em Minas Gerais, 2007, com 107kg, no auge do meu peso. Depois disso passei a me cuidar mais, principalmente a tentar mudar meus hábitos alimentares. Nesse ano eu ainda trabalhava a noite, chegava em casa por volta das 23h30 e ainda jantava. Além da péssima alimentação, era totalmente sedentária.

Do lado direito, em casa, semana passada, com 78kg. Não lembro de uma época da minha vida que eu tenha tido esse peso. Claro que tive, mas não lembro. Vejo pelas roupas que uso quanto tempo fazia que eu não tinha esse peso. Meu maior passatempo hoje é experimentar minhas roupas velhas guardadas sabe-se lá por que motivo. Roupas guardadas há mais de 10 anos hoje servem, como a calça comentada aqui no outro post. Roupas que eu usava há 8, 9 anos, já não servem, estão grandes. Vejo o tanto de roupa que guardamos e que agora eu fico com pena de me desfazer.

O fato é que realmente, a cabeça tem que estar muito legal pra passar por esse emagrecimento todo em tão pouco tempo. Sim, é ótimo! Quando coloco uma roupa que não servia a autoestima vai lá pra cima! Mas também tem o outro lado, o de continuar me vendo com 107kg, continuar me sentindo assim, mesmo sabendo que não estou. Tem a deprê de olhar fotos como essa aí em cima e não acreditar, não entender como é que eu fui deixar chegar nisso. Afinal, isso foi opção? Ou não? Como é que naquela época eu não conseguia enxergar meu próprio tamanho? Por que esperei tanto tempo.

Me dizem que tudo tem sua hora, me dizem que estou ótima. Mas a grande pergunta que me angustia é esse dilema: antes eu era imensa e não me via assim, hoje estou com um peso que não me lembro de ter tido, e me sinto imensa.

Bom, ainda falta 18kg, cheguei na metade da minha meta. Boa sorte pra mim.

16.8.10

Tamanho 44!

Eu sempre quis ter uma calça velha. Acontece que todas que eu comprava deixavam de ser usadas antes de ficarem velhas, afinal, eu só engordei ao longo desses 30 anos. Mas eis que agora eu tenho uma calça realmente velha, no mais correto sentido da palavra.

Certo dia, no desespero de não ter mais roupas pra usar após a partida de 18kg do meu peso corporal, me deparo com essa preciosidade. Uma calça jeans, jeans mesmo, de verdade, sem lycra, porque na época em que ela foi comprada ainda não existia essa facilidade tá acessível assim. Achei-a entre as roupas da minha mãe e lembrei que como ela não servia mais, passei pra ela, que acabou não usando também pelo mesmo motivo, eu acho. E ela estava lá, me esperando por mais de dez anos. Tamanho 44, e agora ela me serve.

12.7.10

Lembranças musico-sentimentais

Afinal, como escreve isso? Com a revisão gramatical não sei mais. Mas enfim, acho que já disse aqui que minha vida tem trilha sonora. Isso deve ser muito comum pra quem vê na música a melhor e maior de todas as artes. Costumo dizer que música é a minha vida, sem ela pouca coisa é possível. Não passo sequer um dia sem música, mesmo que seja do rádio. Por isso resolvi listar aqui algumas coisas que me trazem lembranças boas e bem presentes.

Ceumar

Pouco conhecida, fora da grande mídia, suas músicas me foram passadas por ele, logo que nos conhecemos (ou nos reencontramos) via internet. No carnaval de 2008, numa balada anos 80, saí de lá com uma música dela na minha cabeça. Era Boca da Noite: Por amor ou euforia, tudo de novo eu faria. Tinha ficado com ele pela primeira vez.

Depeche Mode

Na mesma balada do carnaval, lembro que fui com uma amiga que me deixou só lá pela metade da madrugada. Ela foi eu fiquei e vi que deveria partir para o ataque, em busca do que eu queria. Já estava bem animadinha atilicamente quando tocou Enjoy the Silence e decidi que era isso mesmo que eu queria. All I ever wanted, all I ever needed, is here in my arms, words are very unnecessary, they can only do harm.

Eurythmics

Numa outra balada anos 80, comemorando meu aniversário, tinha só uma certeza, e não era favorável pra mim, não. Tinha quase certeza que não rolaria nada, que ele não tava tão afim quanto eu. Mas com o passar das horas e das bebidas, algo mudou, e rolou. Acho que foi ali que começou a rolar mesmo, que eu vi que ele era mesmo o que eu queria, era aquela pegada, aquele beijo que eu queria pra mim. Sweet dreams are made of this, who am i to disagree?

Velvet Underground

Era Velvet Underground que tocava no meu carro na primeira vez que saímos só eu e ele já numa situação diferente, eu sabendo que estávamos ficando juntos. Fomos a um barzinho e depois tentamos comer um lanche numa lanchonete que já não existia mais. Tava cedo, acabamos ficando no carro mesmo. Baby don't you holler, darlin' don't you bawl and shout, I'm feeling good, you know I'm gonna work it on out, I'm feeling good, I'm feeling oh so fine, until tomorrow, but that's just some other time, I'm waiting for my man. Venus in Furs também me enlouquece.

Rolling Stones

Aí não tem uma música certa, não. Mas o dia em que fui com ele no cinema ver o filme Shine a Light foi bem bacana. Primeira vez que fomos ao cinema, foi bom andar de mãos dadas com ele no shopping. Coisa boba, mas isso foi muito bom. Depois do filme, que acabou cedo, fomos pra casa dele tomar um vinho. Caía uma garoa bem fria naquela noite.  If you start me up, if you start me up I'll never stop.

8.7.10

Top Five - Desejo de Comer!

Amanhã completo 50 dias de operada e a minha dieta anda razoável. Arroz, caldo de feijão, carne, legumes, coisa simples. Muito simples. Por isso faço hoje o Top Five de coisas que eu quero muito comer, e logo!

1. Pizza, qualquer uma com queijo, pode ser de alho, calabreza, frango, atum...
2. Sushi
3. Massa, pode ser lazanha ou nhoque
4. Strogonoff de frango
5. Berinjela a milaneza

Tô pedindo muito? Juro que como pouquinho.

Ai que fome.

7.7.10

Feel on black days

Eu trabalho na educação do Estado de São Paulo desde 2002. Entrei nela por opção, comecei e gostei de lecionar. Gosto de estar entre os alunos, gosto de aprender com eles, todos os dias. Não no pretérito, no presente, gosto e continuo gostando.

Porém, nesses oito anos, nunca a educação esteve tão ruim. É incrível notar como em tão pouco tempo, já me tornei alguém que pode dizer 'nossa, lembra naquela época, quando podíamos fazer isso, ou aquilo?'. Importante ressaltar aqui que a piora não é relativa aos alunos. Eles são sempre os mesmos. A piora vem do governo, que insiste em tratar o professor como lixo, como o último escalão do funcionalismo público, como o maior, se não o único culpado pela falência do ensino público.

Há anos estamos sem um aumento de verdade. Incorporação de gratificação não é aumento, Sr Governador, é aumento de arrecadação pra cofre público, no máximo. Há anos o Estado não oferece especializações, como 'naquela época' em que comecei a lecionar. Na TV tem propaganda disso, mas sou prova de que não tem absolutamente nenhuma opção para me aperfeiçoar, quero muito voltar a estudar.

A escolas estão num abandono que dá pena. Como a carreira de professor já não é nada atrativa, dia após dia professores afastam-se e deixam a sala de aula em busca de algo mais lucrativo e menos humilhante. Na minha escola, por dia, temos em média 10 turmas sem professor, já disse isso aqui. Eu, por exemplo, cuido de duas salas nos últimos 3 dias. Cuido, porque isso já não é lecionar. Acha que tô ganhando dobrado? Nem um centavo a mais no meu já mirrado salário. Faço isso simplesmente para que os alunos não se matem nem destruam e escola.

Acho incrível os pais que não notam que o filho vai pra escola e não tem aula. Acho incrível a imprensa ser tão vendida, ninguém fala sobre isso. Afinal, falar sobre a situação deprimente da educação paulista é acabar com a campanha presidencial do Sr. Serra, né? Ele não é o único culpado da nossa situação, mas o partido dele sim. Ano após ano, só fez piorar a educação. Reclamar de salário já tornou-se ridículo perante a nossa situação.

Mas afinal, quem liga pra educação? Acho que já é cachorro morto.


...
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir...
Deus lhe pague.

29.6.10

Keep yourself alive!

Ainda estamos no final do segundo bimestre escolar, mas a neura já começou, o que eu chamo de terrorismo psicológico. Hoje, numa reunião semanal que fazemos na escola do Estado, nossa coordenadora já nos informou que não devemos deixar os alunos com notas vermelhas. Se ele tirou 3,5 é melhor arredondar pra 5 mesmo. É sério. Justificou-se ainda dizendo que se o aluno ficar com vermelha, temos que ter tudo documentado, provando o motivo pelo qual o incompetente, ops, o aluno, não teve nota. Continuou dizendo que diretora, supervisora e dirigente iriam lá na escola comprovar tudo.

É engraçado como as pessoas perdem o senso do ridículo. Francamente, um aluno no Estado só reprova se for por falta, e o fulano tem que faltar muuuuito. Tem mais, com nota vermelha só fica aquele que não faz, não entrega nada e não participa. Tem aluno analfabeto (e muito) que tem nota, por simplesmente participar da aula, dos debates. Mas agora eu teria que deixar todo mundo com notas bonitinhas, até o vagabundo que vai pra escola só pra quebrar tudo e traficar.

Aliás, quebrar tudo tem sido uma das disciplinas mais assistidas pelos pequenos lá da minha escola. Afinal, a molecada tem ido pra escola e tem ficado sozinha, das 13h às 18h20. Não temos professores, a maioria afastados por motivo de doença. Eu mesma fiquei um mês por causa da cirurgia. Não temos professores substitutos, nada. Sendo assim, as crianças ficam lá, largadas, sem aprender absolutamente nada (que preste). Mas nem é só isso. Os que tem aula também estão prejudicados, pois junte cinco turmas de 40 alunos sem professor e veja se com o barulho que eles fazem é possível estudar. E não são só cinco salas por dia sem professor.

Por que será que diretoras, supervisoras, dirigentes, quando sentam a bunda na cadeira fofinha nunca mais voltam pra sala de aula? Será porque o trabalho é um lixo? Será que por acaso não é esse povo mesmo que está jogando o meu trabalho no lixo?

Acreditem, já sou uma espécie ameaçada de extinção.

Embora a música do título seja do Queen, agoratô ouvindo Semáforo, do Vanguart. Veio bem a calhar também.

Hoje é terça-feira
O céu borrou a cor
Ó minha mão do céu
Ó meu pé do chão
Ó minha mão do céu
Ó meu pé do chão
Eu não ouço vocês
Eu não ouço vocês (mais alto)
Eu não creio em vocês

Só acredito no semáforo
Só acredito no avião
Eu acredito no relógio
Só acredito
Eu só acredito

28.6.10

Tamanhos

Irresistível. Não consegui me segurar e já coloquei a foto da mudança do número das calças. Toda mulher sabe o quanto isso significa pra gente! Já tive uma calça 54, mas não faço idéia de onde está, sei que guardei em algum lugar, mas agora aí está, minha calça 48 que antes da cirurgia não servia, e agora já vou fazer pencinhas.

48 ainda é um tamanho grande, eu sei. No mundo das lojas Marisa e C&A ainda são números considerados 'especiais', ou seja, de gordo mesmo. Mas é muito bom ver a evolução da coisa.

Estou com 40 dias de operada, bem, mais feliz do que dias atrás, na dieta pastosa. Já como arroz, carne, caldinho de feijão, purê de batatas. 11kg off.

23.6.10

Abraçoterapia

Então eu voltei a trabalhar.

Trabalhar numa escola do Estado de SP é uma missão. Missão impossível sem o Tom Cruise. Segunda voltei, toda serelepe, até feliz pois estava reencontrando pessoas que gosto muito, tanto colegas de trabalho quanto alunos mesmo. As colegas me deram uma força imensa durante o período que fiquei em casa, ficaram me ligando todos os dias, e isso me fez muito bem. As crianças... a maioria deles eu convivo já pelo terceiro ano. Quando pensamos nisso, vejo que eles são tão próximos de mim que tenho medo do dia em que não nos veremos mais. Os conheci ainda na infância, hoje são adolescentes, cresceram na minha frente, dentro da minha sala de aula toda decorada por eles mesmos.

Mas eles não sabem o motivo do meu afastamento. Por algum motivo que não sei explicar, não contei pra eles nada sobre a cirurgia. As colegas todas sabem, aliás, nem todas, só as mais próximas. Hoje mesmo cruzei com uma professora no corredor que me perguntou se eu estive doente. Minha escola é grande, por período temos mais ou menos 50 professores por ali. Ou deveríamos ter, mas isso é assunto pra outro post.

Mas o melhor de tudo isso é mesmo o abraço. As colegas quando me viram me abraçaram, perguntaram como eu estava, etc. Mas o melhor abraço não é esse, é o das crianças. Abraços apertados, sentidos mesmo, às vezes mais de um por vez, acompanhados de frases como 'pro, não falta mais, ficamos com saudade' ou 'Como a senhora está? Tá melhor? Não vai mais faltar, né?' Abraço apertado deveria estar na lista de direitos básicos do ser humano, é muito bom.

Mas apenas um, UM aluno quase matou a charada. O Allan, o que me corrigia lá na quinta série, em 2008, dizendo 'É Állan, pro, Áááállan'. Ele entrou na sala, olhou pra mim e disse 'Olha só, a pro ficou um mês no spa, voltou mais magra pra escola!'. E me abraçou também. Isso foi bem bom.

16.6.10

Top Five - Músicas que fazem chorar

Pensei em criar uma ordem pra elas, mas não consegui. Deixei na ordem que coloquei inicialmente mesmo. Ia colocar umas do Chico Buarque, mas teria que criar um top five só dele. Tá, não resisto: Funeral de um lavrador, Valsinha, Gente Humilde, Gota d'água e Deus lhe Pague. Pronto, falei.

A Lista - Oswaldo Montenegro
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia

O que me importa - Tim Maia (com a Marisa Monte também é lindo lindo)
O que me importa
Seu carinho agora
Se é muito tarde
Para amar você

Um dia, um adeus - Guilherme Arantes
Só você prá dar
A minha vida direção
O tom, a cor

Serra do Luar - Walter Franco
Amor vim te buscar em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento

Virgínia - Mutantes
Vá embora e feche a porta
Tenho frio!
Vá embora antes que eu chore
Tenho frio!
Vou trancar-me
Para nunca mais abrir
Pro sabor dos nossos sonhos
Não fugir

15.6.10

Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

(...)

Nem um dia, Djavan

Ps: Nem gosto do Djavan, mas essa fala tudo hoje.

8.6.10

Sobre pecados, penitências e o paraíso.

Eu tenho certeza de que estou pagando penitências. Sim, penitências pelos meus pecados, 30 anos de gula. É impossível não pensar nisso cada vez que entro num shopping ou num supermercado. Ou então em ocasiões como a de hoje, um filme que eu veria no SESC foi cancelado. E então eu tava lá, vestidinha, perfumada e maquiada, antes das 20h sem nada pra fazer. Em outros tempos isso não seria problema nenhum, era só ir pra algum lugar e comer, ou, na pior das hipóteses, comprar algo no mercado e ir comer na casa do namorado. O que eu fiz? Peguei o carro, voltei pra minha casa e tomei minha sopa sem graça mais uma vez.

É, certeza, isso é penitência. Quem mandou comer feito uma louca por 30 anos e dois meses?

Ao menos tem um lado bom, estar eliminando peso, esse talvez seja o paraíso a ser alcançado após todos pecados pagos. Mas dentro de um mercado, esse lado bom briga feio com o lado ruim. Sabe o diabinho e o anjinho? Estão de degladiando aqui.

Eu sei, a escolha foi minha, mas eu também quero reclamar, pô.

6.6.10

A vida começa a voltar ao normal.... ou quase.

A médica me liberou pra dirigir com 15 dias de operação. É claro que no 15º dia eu já quis sair com o carro. Mas esperei mais um pouco, não estava tão segura. Quando foi no 16º dia, aí sim, eu tava preparada, (ou a beira de um ataque de nervos). Peguei o carro e fui até o shopping comprar piercings novos, afinal, os meus eu perdi na afobação do pré operatório. Isso foi pela manhã, e ainda fui ao SESC com o namorado fotógrafo assistir um filminho a noite. Oba, foi minha declaração de independência.


No sábado, 17 dias de operada, fui a um show em São Paulo, Anneke van Giersbergen e Danny Cavanagh no Blackmore Rock Bar. Bem bacana, o show foi ótimo, fiz até fotos. Mas não foi muito fácil ficar me esticando pra ver algo com 16 pontos na barriga. Me esticando sim, porque aos 1,54m do solo, fica muito difícil ver algo no palco.


Só não posso dizer que a vida voltou ao normal, totalmente. O show terminou antes das 21h. O que eu fiz? Voltei pra casa. Sem pizza, sem habbib's, sem batata frita com cerveja. Já tô sonhando com uma pizza...

2.6.10

Duas semanas

A partir de hoje eu já posso dirigir, e logo mais mudo um pouco a minha alimentação, que vai mudar de líquida pra pastosa. Os meus 16 pontinhos na barriga já estão todos fechados, o buraquinho do dreno ainda não, mas tá fechando. Os pontos eu tiro no mesmo dia em que mudo minha alimentação, dia 07/06. Tá chegando.

É estranha a sensação de que eu deveria estar feliz, saltitante, afinal, operei, consegui o que eu queria, tô eliminando peso, etc. Mas na realidade, não é nada fácil ficar fechada em casa o dia todo. Não sei se é isso, ou a falta de mastigar alguma coisa que tá me dando uma deprê daquelas. Já faz alguns dias que estou me sentindo como se estivesse naquelas TPMs das mais brabas, vontade de chorar o dia inteiro mesmo.

Não tenho vontade de ler, não tenho vontade de assistir nada na TV. E olha que não é por falta de opção, minha cunhada me mandou uma sacola cheio de DVDs bacanas, tenho dois livros, um dela também, inteirinhos pra ler. Simplesmente não consigo.

Será que isso vai passar? Será que vai melhorar com a mudança da alimentação? Será que meu humor mudou pra sempre? Será que é normal?

Acho que vai passar.

26.5.10

Uma Semana

Então, uma semana atrás, nessa hora (11h44m) eu já estava no facão. Lembro-me apenas de olhar pro relógio da sala de cirurgia e pedir uma vodka pra anestesista, o relógio marcava 11h10. Imagina a cena? Eu lá, de aventalzão, ela tentando achar uma veia, e eu falo 'ah, pode ser uma vodka mesmo, fico feliz com ela'. Putz, que bebum.

Depois só me lembro de ter acordado por volta das 14h já no quarto. Uma dor e uma náusea insuportável, a boca seca, louca por uma água. Pensando bem agora, uma semana depois, acho que me deram vodka mesmo, eu acordei é com ressaca mesmo! E praticamente pelada numa cama que não era a minha, com pessoas que eu não conhecia ao lado.

Bom, o que importa mesmo é que hoje me pesei, já eliminei aproximadamente 5kg. Também, qualquer um que siga a dieta que eu tô seguindo, elimina isso. Mas enfim, a dieta nem é tão ruim, ruim mesmo é não poder fazer nada, não poder sair de casa, passear. Ficar todos esses dias confinada no quarto talvez seja o maior desafio pra mim.

23.5.10

Sobre um divisor de águas na minha vida, minha cirurgia

Cirurgia de Capella (Bypass Gástrico em Y de Roux)

Descrição:• O grampeamento é utilizado para criar uma pequena bolsa na parte superior do estômago que restringe a quantidade de alimento capaz de ser consumido;
• Uma parte do intestino delgado é desviada retardando a mistura do alimento com os sucos digestivos para evitar a absorção calórica completa.

Resultados:
• Média de 77% da perda do excesso de peso um ano após a cirurgia;
• Os estudos mostram que após 10 a 14 anos, os pacientes mantiveram 60% da perda do excesso de peso;
• Estudo do ano 2000 mostrou que 96% de certas co-morbidades, tais como dor nas costas, apnéia do sono, aumento de pressão sanguínea, diabetes tipo II e de pressão diminuíram ou foram curadas;
• Em muitos casos, os pacientes relataram uma sensação precoce de saciedade combinada com uma sensação de satisfação, que reduz a vontade de comer.

Riscos:
Enquanto as principais cirurgias acarretam um certo nível de risco, os riscos e as considerações a seguir são específicos para este procedimento:
• Baixa absorção de ferro e cálcio;
• Anemia crônica devido a deficiência de vitamina B12;
• Ocorrência de Síndrome de Dumping quando consome-se muito açúcar ou grandes quantidades de comida;
• Dilatação da bolsa gástrica;
• A parte desviada do estômago, duodeno e segmentos do intestino delgado não podem ser facilmente visualizadas usando Raio-X ou endoscopia.

Ela pode ser feita pro video ou aberta, que foi o meu caso:

Via Aberta:
Um procedimento aberto consiste em uma incisão longa no abdômen a fim de que o cirurgião tenha acesso ao sítio cirúrgico.
Procedimentos abertos para a Cirurgia da Obesidade utilizam os mesmos princípios da Laparoscópica. Portanto, produzem semelhante perda de peso.
Essa abordagem é indicada pela nossa equipe somente em situações clínicas muito adversas, como um fígado extremamente gorduroso e com hiperdimensões.

Informações retiradas do site da equipe médica que me operou, a equipe do Dr. Afonso Sallet.

18.5.10

Virada Cultural 2010

Meu terceiro ano na Virada. Algo me dizia pra não ir. Não vai, não vai, você precisa se resguardar, precisa descansar pro que vem por aí (próximo post eu explico o que vem por aí). Mas eu fui. Já desde o início, quando vi a programação não fiquei lá muito empolgada. Esperava como a maior atração o Rick Wakeman, mas nada, ele não veio. Sobrou pouca coisa interessante pra ver, mas mesmo assim, resolvi ir.

Nesse ano a Virada sofreu algumas alterações, como por exemplo, a maior distância entre palcos. E como estavam longe! As melhores e maiores atrações estavam distribuídas em três ou quatro palcos no centro, mas em pontos tão distantes, que era impossível assistir a dois shows em menos de 1 hora. Pra quem quer ver de tudo um pouco, a peregrinação foi grande. Aliás, sugestão pra organização da Virada: criem um roteiro de peregrinação pro ano que vem, algo como um caminho da fé em nome da arte, com distribuição de fitinhas e tudo mais. É sério, quem quer ver o máximo que pode, cansa, machuca os pés, passa sede e fome. É uma peregrinação, um sacrifício mesmo. Seja lá quem for, o santo protetor das artes deveria abençoar a gente!

Uma ótima surpresa foi no palco da Vieira de Carvalho, no Largo do Arouche. Lá tocou o Desengonçalves (André Abujamra e Guilhermoso). Os caras tocam músicas do Nelson Gonçalves, que já são clássicas só pelas letras, mas todas com arranjos de rock, algumas punk rock. Sensacional! Um show que eu quis ver e não me agradou foi o da Patrulha do Espaço. Já tinha visto várias vezes, mas nunca com o Percy no vocal, e o próprio não fez a lição de casa. Nitidamente sem ensaio, foi um show bem sem graça, muito aquém do que costuma ser um show da Patrulha. Uma pena. Ah, olha só, como esquecer de falar da muvuca? Minha gente, o Largo do Arouche estava simplesmente inpraticável lá pela hora do show do Sidney Magal. Não só pela atração, mas lá mistura-se o público do show com o pessoal das baladas GLS, vira um vuco vuco só. Acredite, tinha até um carro divulgando um candidato a sei lá o que, de um partido intitulado de Partido do 3º Sexo. É.

Tanta coisa longe demais... Não vi Zélia Duncan, Arrigo Barnabé, Palavra Cantada, Arnaldo Antunes. Na verdade, acho que só faltou isso do que me interessava, e ainda assim, não valia a correria. O Arnaldo eu acabei vendo quando passei pelo Titãs. Gente, é sério. Como é que o Titãs hoje em dia ainda atrai tanta gente? A pista vip virou o inferno na Terra durante o show deles. Poupem-me.

Louco demais também foi a Suspensão Corporal na Galeria Prestes Maia. Aquilo é sensacional, e digam o que quiserem, vendo aqueles ganchos na carne da garota que estava sendo suspensa, até senti um pouco de inveja. Aquilo deve ser uma adrenalina única na vida. É sensacional a expressão de dor misturada com uma satisfação louca, uma euforia mesmo. Incrível.

O que mais? Importante dizer que a Virada tem duas caras, só quem vai a noite e volta durante o dia é que entende isso. A noite as ruas de SP são tomadas por bêbados, loucos, pessoas transando, vomitando, caídos, adolescentes em sua maioria. Mas no domingo tudo muda... domingo lá pela hora do almoço é possível encontrar famílias passeando onde outrora parecia um campo de batalha. Engraçado isso, parece outro evento mesmo. Só não muda a sujeira e o cheiro de urina, que é presente no centro inteiro.

Se eu gostei? Gosto sempre, não presto. A gente sofre, morre de tanto andar, mas eu sempre gosto e sempre falo que no ano que vem, talvez não valha a pena ir. Ano que vem a história se repete, já ouvi falar que Rick Wakeman vem em 2011.

Fotos aqui:
http://www.flickr.com/photos/belgasparotto

7.5.10

Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro

Tem dias mais difíceis do que os outros.

Não sei o motivo, mas tem dias em que simplesmente não consigo mais ouvir aquele papo idiota de 'bacana mesmo é a Bel, gordinha que se gosta, se garante, tá sempre pra cima.' Hoje na escola ouvi isso, senti vontade de sair correndo. Na verdade eu estou saindo correndo, poucos sabem, mas estou.

Se garantir? Quem fala isso não imagina o que é entrar numa loja e ter que levar a roupa que tem no seu tamanho, e não a que você quer. Não sabe o que é ouvir as pessoas dizendo 'nossa, mas você come tão pouco...' e interrompendo antes que diga '... então por que é tão gorda?'. Não sabe o que é olhar todos os dias no espelho e imaginar-se em outra vida, em outro corpo. Não sabe o que é ter que arrumar mil e um artifícios pra um homem olhar pra você sem ver o seu peso. Tornar-se atraente apenas pela inteligência e um pouco de beleza no rosto é, muitas vezes, desgastante. Não sabe o que é sentir-se como um prêmio de consolação, com tanta mulher gostosa no mundo, é isso que às vezes eu sinto. Rosto, sorriso bonito é o caralho. Tô de saco cheíssimo disso.

Neura? Sim, às vezes sei entrar numa neura profunda.
Amarga? Às vezes também sou.
Viu? Não me garanto, não sou 'pra cima' o tempo todo. É só olhar no espelho que não dá pra ficar muito pra cima.

5.5.10

3.5.10

Síndrome da Segunda-feira

A síndrome começa a se manifestar no domingo, logo no entardecer. Nesse horário geralmente ela ainda é bem amena, ainda tem algum barzinho, alguma reunião de amigos, ou ainda o cansaço de um dia cheio. Ela se agrava mesmo quando ouvimos a voz do Zeca Camargo na TV, é o Fantástico. Impossível negar que a programação da Globo conduz as horas do dia, mesmo que você não a assista. O Fantástico é o marcador que diz que seu domingo foi pro saco, e com ele todas as possibilidades de diversão e ócio.

O ápice da síndrome manifesta-se quando você acorda na segundona. Um sono anormal, uma dor no corpo como se você tivesse escalado o Everest no domingo sem ter feito nada. Os olhos ardem e geralmente apresentam cor avermelhada e lacrimejam. A garganta geralmente dói, raspa, você mede rapidamente a temperatura do corpo, "será que estou com febre?'. As manhãs de segunda geralmente são mais frias do que todas as outras da semana, motivo pelo qual sente-se enorme dificuldade para sair debaixo das cobertas, ainda que essa coberta seja apenas o lençol.

Superada a fase mais aguda da síndrome, ela tende a ir desaparecendo em aproximadamente 8 horas. Mas durante todas as 8 horas (ou até mais) ela manifesta-se em forma de um mau humor ácido, corrosivo. Só acaba mesmo no momento em que chega-se de volta do trabalho, geralmente o momento derradeiro é na hora do banho ou do jantar.

O tratamento ainda é muito é raro e por vezes ineficaz. Um bom feriadão na própria segunda-feira ou mesmo na terça-feira evita a síndrome. Outro tratamento não tão eficaz é não trabalhar nas segundas, mas existe grande possibilidade de ocorrer uma mutação e o paciente desenvolver a síndrome da terça-feira.


Por onde ando com mais frequência:

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29.4.10

Dona Filomena

Um dos personagens da minha infância foi a Dona Filomena. Resolvi escrever sobre ela porque sonhei com ela essa noite. Dona Filomena foi minha vizinha de muro até meus 26 anos. Quando saí daquela casa ela já beirava os 100.


Lembro-me de um dia, eu estava nas primeiras séries do ensino fundamental, acho que na segunda ou terceira série, e tava vendendo uma rifa da escola. A cada número vendido ganhávamos nem lembro o que. Aí fui chamar a Dona Filomena no muro pra vender pra ela, que comprou vários números e também as filhas dela compraram, eram várias filhas, 4. Na hora de colocar o nome dela no número vendido, ela pediu que eu escrevesse, pois ela não sabia escrever. Incrível como isso mexeu comigo na época. Acho que a primeira maior alegria da minha vida, que eu me lembre, foi quando eu me dei conta de que sabia escrever, aí descobri que a minha vizinha tão querida, quase uma avó, não sabia escrever o nome. Essa imagem até hoje é muito nítida na minha cabeça. Lembro dos dedos dela, morenos, pele escura e muito enrugada, com uma aliança grossa no dedo, me passando o papel da rifa pra eu escrever seu nome.


Outro dia que é tão vivo na minha lembrança como se fosse hoje foi quando achei que minha mãe tinha me abandonado. Minha mãe vivia falando que ia sumir de casa, irritada com a bagunça que eu, meu irmão e meu primo fazíamos. Falava o tempo todo que ia fugir de casa. Ela sempre fazia a gente dormir depois do almoço, provavelmente pra dar um sossego pra ela, mas eis que, numa tarde acordei e não a vi em casa. Meu pai estava trabalhando, meu irmão devia estar na escola. Era uma tarde de inverno, tinha uma neblina que não dava pra ver nada na rua, aquele frio. Saí correndo, pulei o portão e entrei na casa da Dona Filomena, chorando, dizendo que a minha mãe havia me deixado sozinha. Ela calmamente me levou até a sala, ligou a televisão na sessão da tarde, me deu chá e bolachas e me acalmou até a minha mãe chegar. Ela tinha ido só até o mercado, mas pareceu uma eternidade. Minhas duas avós moravam longe de mim, acho que no fundo eu via a Dona Filomena como a minha avó por adoção.


Dona Filomena morreu faz alguns anos, logo que saímos da casa vizinha dela. Mas ainda tenho a imagem dela mais nítida do que se fosse uma foto. Morena, cabelos ralos, um brinco de ouro, da mesma cor da aliança, avental bordado, sempre de avental. Saudade.

27.4.10

Pensa num domingo perfeito

* Acordar na cama dele

* Pegar o carro e ir pro Ibirapuera

* Chegar e pegar um sol lindo, num céu lindo

* Assistir um show em homenagem aos 100 anos do Adoniran Barbosa

* Ouvir músicas que fizeram parte da minha infância, que lembram a minha relação tão breve com meu vô

* Quando acabar o show, olhar pro relógio e decidir que dá tempo de ir pra Paranapiacaba

* Chegar lá e almoçar na Lourdes, R$10 e come-se até sair rolando

* Encontrar amigos queridos na Vila

* Assistir mais um show, agora do Renato Teixeira, bicho-grilismo na veia

* Ter ao lado alguém que acompanha no mesmo pique tudo isso

* Isso sim é um domingão!

Tá chegando, menos de um mês!

Então a data da mudança da minha vida tá marcada, será dia 19/05. Ninguém lê isso aqui, mas se alguém resolver passar e quiser saber qual a grande mudança, vai ter que esperar chegar mais perto. Até lá, vou preparar um dossiê, um histórico de tudo. O diário tá mudando de propósito.


Pra quem acha que a mudança é um casório, já aviso, errou.

Por enquanto, mudança concreta mesmo, só na cor das unhas. Não resisti, tava morrendo de inveja mortal das unhas das minhas alunas, embarquei na onda das unhas com cores estranhas. Azul! Onde compra um verde limão, heim?

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20.4.10

Quanto pó!

Isso aqui anda tão sem graça que ando pensando em assassinar meu próprio diário. Verdade é que a minha vida não tem nada de tão interessante que interessa assim a tanta gente. Minha vida anda tão desinteressante que recentemente criei aquele formspring e não consegui ter 10 perguntas, eu acho. Ou eu sou uma mala aberta ou ninguém quer mesmo saber nada de mim. A segunda alternativa é muito mais provável.

Ok. Tirado o pó, fecho de novo o diário e guardo mais um pouco. Acredito de verdade que algo muito interessante vai acontecer nos próximos meses, aí ele poderá voltar a ser útil. "Voltar a ser útil", quanta pretenção a minha, rss...

Ficou com pena? Visita lá, comenta, pergunta, xinga. Tô sofrendo de carência virtual mesmo.
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5.4.10

Titãs e a minha vida

Dica de filme hoje: Titãs - A vida até parece uma festa (2008)


Já não tão novo, mas eu nunca tinha visto. O filme é bem superficial, na verdade. Eu esperava algo que contasse, com as tais filmagens do Branco Mello, a trajetória da banda, com depoimentos, histórias, etc. Na verdade é uma salada de imagens, novas, velhas e arcaicas de toda a carreira dos Titãs, mas não segue uma linha exata, e muita coisa fica pra ser contada. Talvez não seja mesmo a idéia do filme contar uma história, se esse realmente não é o objetivo, então ok.

Sim, ele diverte sim. Principalmente pra quem tem a minha idade e cresceu ouvindo Titãs nas FMs. Tenho 30 anos, quando criança tinha primas mais velhas, e uma delas me apresentou o Cabeça Dinossauro. Só a capa já dava medo. O som, algo incrível, pesado, letras em português que nem sempre entendíamos o sentido, e algumas que entendíamos bem. Minha mãe louca da vida com um cara dizendo que não gostava de padre, não dizia amém. Em outra, gritava em alto e bom som, mandando todo mundo se foder. Era sensacional! O fato é que depois desse disco, posso dizer com toda certeza que Titãs nunca mais saiu da vitrola daqui de casa. Nunca mais até o início dos anos 90, quando veio o Titanomaquia e o que grande parte dos fãs entendem como o auge da banda. Depois disso veio o Domingo e o Acústico, que conseguiu dar uma levantada na moral dos caras, mas era tarde. Algo ficou no caminho, algo que cresceu, gradativamente e se perdeu depois do Titanomaquia.

Assistindo ao filme, vendo aquelas cenas, ouvindo aquelas músicas, pensei em tudo isso, nunca tinha dado a devida importância aos Titãs. Sim, na verdade, até hoje eles estão presentes na minha vida, puta saudade daquela época em que pegávamos os discos emprestados, ouvíamos até cansar... Go Back, Jesus não tem dentes... E o Tudo ao mesmo tempo agora? Como adorei esse disco! Era a única garotinha da escola que gostava de uma música em que se falava e repetia a palavra clitóris várias vezes. Hoje xingo, reclamo, lamento a atual situação da banda, mas sem nunca esquecer tudo o que ela me trouxe de bom. Sim, o fime foi bacana, poderia ter sido melhor, mas cumpiu o papel de entreter e me fazer lembrar até mesmo de coisas bacanas, importantes e até tristes que rolaram ao som de Titãs. Quanta saudade!

1.4.10

Penas, testosterona e a grana que não vem

Lá vamos nós, mais uma história de um dia difícil na escola.

Temos 21 salas só no período da tarde. Hoje, 12 professores faltaram, ou seja, 12 turmas sem professores, zanzando pela escola, correndo, gritando, quebrando tudo. 12 turmas de 40 alunos cada, 480 adolescentes ociosos das 13h às 17h30.


Em determinado momento, achei que fosse presenciar algo que nem sei como definir. O fato foi o seguinte: 5 meninas de uma sétima resolveram brigar na mão com outras 2 de outra sétima pra descobrir quem era o grupo mais popularmente chamadas de galinhas. Até aí, tudo bem, algo até corriqueiro entre a faixa etária delas. Seria só mais um dia normal se não fosse um grupo de meninos no meio incitando a confusão já babando e com os olhos brilhando, meninos que sonham em trabalhar num filme pornô, os putos da escola, os chamados garotos prostitutos (acreditem, eles se autodenominam assim na sétima série).


Por uma fração de segundos, imaginei que ali aconteceria um bacanal, juro. Eu e uma outra professora ainda pensávamos se íamos lá separar ou se preparávamos a câmera do celular pra filmar e ganhar uma grana quando uma das diretoras, entidade temida até por nós, professoras, apareceu e, só com sua presença, dispersou o provável bacana hard core.


Uma pena pra todo mundo. As meninas ficaram com cara de quem tava quase lá e ficou chupando o dedo, os meninos realmente ficaram chupando o dedo, e nós, professoras, nada de uma graninha com filmes pornôs hard core. Putz.

19.3.10

Filha modelo: procura-se

Poucas coisas me deixam tão puta quanto a situação que eu vivo na minha casa. Não é minha casa, na verdade. Tenho 30 anos, moro com meus pais, e a cada dia se torna mais evidente que não moro com eles, moro DE FAVOR com eles, isso sim. É mais ou menos como se a moradia fosse a parte deles, e a minha parte fosse ser uma filha de 10 anos. Acontece que esse modelo não me cabe mais.

Hoje fui ver uma amiga, 5 anos sem vê-la. Amiga de longa data, queridíssima, morando no exterior. Saí do trabalho, encontrei-a, jantamos e fomos continuar a conversa na casa dela. A conversa foi cortada depois da 1h da manhã, afinal, trabalho no dia seguinte. Ao sair, olhei o celular, 9 ligações perdidas de casa. Justificativa? Não pensaram que eu voltaria tão tarde, eu estou errada. Detalhe? Eu entro só às 13h no trabalho.

Das duas uma: ou jogo meu celular no lixo, ou saio de casa. Pensando bem, as duas opções devem ser o passo para a felicidade.

17.2.10

O ano nem começou direito...

... e eu já tô irritada com a maravilhosa organização da minha escola. Da minha escola não, claro, da Secretaria da Educação de SP.

Os alunos entram em sala amanhã. Os cadernos do aluno, a tal apostila que o Estado manda pra eles, já chegaram. Mas eu não vi nem a cor de nenhum. Que ótimo, é lindo falar na televisão que o material do aluno já chegou, que tá investindo trocentos mil reais nisso e blá blá blá. O que ninguém sabe é quando os professores, os mesmos que terão que trabalhar com tais materiais, terão acesso ao mesmo.

Ok, primeiros dias de aula é melhor trabalhar de outra forma. Quem sabe um texto sobre meio ambiente, sociedade, relacionamentos, etc.? Só se for passado na lousa ou ditado, afinal, não se tem onde tirar cópias na escola. Durante todos os anos que tenho de magistério sempre coloquei dinheiro do meu bolso pra fazer cópias de atividades, textos, provas. Mas chega uma hora que só o valor que eu gasto é que aumenta, meu salário não. Logo, só idiota pra continuar gastando seu dinheiro no que nem o Estado gasta, real melhoria dos métodos de ensino.

E o ano tá só começando...

9.2.10

Adolescência

O calor estava infernal. Janeiro. Ela na cama, lendo uma revista, ele no computador, a mãe dele na sala, assistindo qualquer coisa na programação dominical, é tudo igual mesmo.

Não bastando o calor que fazia, ainda tinha aquele calor próprio dos namorados quando impedidos de ficarem como desejam. Abraçaram-se, beijaram-se e o clima esquentou mais alguns graus. A porta do quarto aberta, seria muita bandeira fechar, na TV alguém voltando pra terra natal. A cada segundo a temperatura aumentava, e a cada suspiro vindo de fora do quarto se largava, se recompunham, e logo depois recomeçavam. Até o suor que escorria da pele fazia barulho.

Como em todos os dias quentes, a tempestade se anunciou com ventos fortes, refrescando um pouco o ambiente. Logo nas primeiras rajadas de vento, puff! Cai a rede elétrica, em casa volta logo e com ela alguém ensinando a adestrar um cão, escuridão total na rua.

Ela decide ir embora, passa pela sala, despede-se. Ele vai atrás, bate a mão no interruptor da luz da garagem, fingindo acender a luz. Na garagem, breu total. A tempestade alivia o calor, mas não os ânimos. Tal como acontece no clima, outra tempestade anuncia-se, tendo o beijo como os primeiros raios e trovões. Ninguém na rua, nem próximo de onde estavam, na garagem. Entre os corpos o que ocorre é uma tempestade tal qual a que vem do céu, vem violenta e rápida como as chuvas de verão, rápido só para aliviar a sede da terra e clarear o céu, rápido pra não dar tempo pra ninguém perceber, rápido só pra refrescar.

Ainda durante o último beijo, aquele já mais calmo, os dois se recompõem. Não chove mais, o céu já tem estrelas. Foi embora se sentindo uma menina fugindo dos pais, fazendo tudo o que não se pode fazer, tudo escondido. Aos quase trinta, é bom se sentir uma adolescente. Com a vantagem de ter um carro, claro.

4.2.10

Dias de fúria

Pra ler ouvindo Pé na Porta, Soco na Cara, do Matanza.

Foi difícil, mas acho que entendi que os meios de comunicação mais atuais do que o telefone, como orkut, twitter, blog e msn são tão práticos quanto o precursor. Prá quê tanta gentileza afinal? Não quer falar com alguém, simplesmente desligue na cara, ou melhor, tire do gancho.

Já tentei ser educada, gentil. Sempre detestei insistência, e hoje temos por toda a internet um bando de loucos que vivem mendigando contatinhos, depoimentinhos, fotinhos, etc. Quando é desconhecido é simples, clico no ignorar, bloquear, negar, e por aí vai. Problema é quando a insistência vem de alguém conhecido, não amigo, claro.

Decidi que foda-se o que os outros pensam e quantas vezes vão se revoltar pela minha falta de civilidade, companheirismo, delicadeza, amizade. Amizade? Será que amizade não é algo recíproco? Deveria ser pelo menos. Se eu não tenho interesse numa amizade, não rola, sorry. Egoísmo? Sim, talvez. Mas realmente, amizade que não acrescenta nada, e se perigar, subtrai, não é amizade, é muleta. Por isso acho que hoje a palavra amizade anda subvalorizada, acham que amizade é uma obrigação. Acredite, tem gente que acha que temos obrigação de sermos seus amigos. E que fique bem claro o tipo de interesse ao qual me refiro, ok? Não falo em vantagens, falo em experiências a serem trocadas, emoções, conversas, risos, segredos. Isso tudo, a afinidade, faz de alguém interessante ou não, na falta dela.

Esses dias fiz uma limpeza nos meus contatos e e-mails. Quem importa ficou, quem não importa, sorry, mas não acho necessário ficar fazendo política de boa vizinhança a troco de nada, ou pior, tendo prejuízos ridículos. Aos quase 30, é isso que decido e acho que tenho esse direito. Egoísmo, sim. Mas piedade e pseudo amizade não sustenta nem acrescenta. Como disse, periga sair no prejuízo.

Ou fazia isso, ou cometia um suicídio virtual.

Filmes

A Festa da Menina Morta

É o primeiro filme dirigido por Matheus Nachtergaele, e diria eu que é um filme diferente de tudo o que eu já vi. Não é nada inovador como o cinema novo, por exemplo, mas causa um certo estranhamento.

A história se passa numa comunidade ribeirinha do Amazonas, e gira em torno da tal festa da menina morta. A menina desapareceu há 20 anos e, na época, um cão entregou os restos do vestido da menina a outro menino, que ficou conhecido como Santinho e passou a 'fazer milagres' e benzer o povo da comunidade. Santinho é interpretado por Daniel de Oliveira, na minha opinião, um dos melhores do cinema nacional atualmente. Santinho é um jovem destemperado, egoísta e mal educado, porém, reverenciado por toda a comunidade. Todos os preparativos para a festa acontecem mesmo sendo contra a vontade do irmão da menina, que não acredita na santidade do rapaz.

Se eu tivesse que descrever o filme com um adjetivo só, utilizaria 'amargo'. É um filme amargo, me faz falta alguma delicadeza, não sei dizer ao certo o que falta. Com certeza não falta uma ótima direção, uma ótima interpretação dos atores, nem a maravilhosa fotografia, mas é um filme pesado sim. O momento de maior delicadeza, na minha opinião, é uma cena de incesto gay, aparentemente, o único momento de satisfação, de alegria do Santinho.

Recomendo, não deve ser passado em branco, mas prepare-se, não é um filme fácil.